sábado, 17 de dezembro de 2011

Comentários aos Trabalhos Finais

Classe querida,
Tendo corrigido todos os trabalhos (em breve vou me encher de paciência e passar as notas no site da DAC e depois devolver os trabalhos com pequenos comentários a vocês), queria fazer algumas observações gerais.

Senti que a disciplina ficou prejudicada, lógico, sem sua parte final. Independente disso, trabalhamos uma vasta bibliografia em fotografia e comentamos em sala muitos textos, e fizemos muitas análises de imagens juntos. No entanto, pouquíssimos trabalhos fizeram uso da bibliografia, direta ou indiretamente; muitos trabalhos demonstram não terem compreendido sequer o que Barthes chamou de studium e punctum e, por fim, muitas descrições da imagem foram pouco densas, rápidas e burocráticas. Se, como eu expliquei para a realização do trabalho, um dia eu não conseguisse enxergar mesmo (toc toc toc na madeira 3 vezes) ia preferir estar perto de pouco mais de uma meia dúzia de vocês...

Por outro lado, uma parte dos trabalhos foi realizada de forma bastante competente, e vários trouxeram uma percepção da dimensão de como a fotografia registra a passagem do tempo que, neste caso, misturada às vidas dos narradores (vocês) trouxe à redação final resultados bem tocantes.

Obrigada a todos pela convivência este semestre; fiquei bem triste de não estar em Teoria 1 mas não faltarão oportunidades de trabalho juntos nos próximos anos, assim espero.
Um super obrigado à Raquel e à Joana, pela dedicação, amabilidade e seriedade com que trabalharam junto nesta disciplina.
Um Santo Natal pra todos, e ótimo 2012!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Exposição em SP

Queridos,

A Estação Pinacoteca e o Memorial da Resistência estão com uma exposição de fotografias que tem como tema "Lugares da Memória - Resistência e Repressão em São Paulo" até Março do ano que vem. Ainda não fui, mas parece estar bem interessante. No próprio site da Folha, onde vi a notícia sobre a exposição, tem uma foto super bonita do Largo São Francisco: http://guia.folha.com.br/exposicoes/1011526-repressao-politica-em-sp-e-tema-de-exposicao-com-100-fotos.shtml.
Quem estiver por SP, acho que este pode ser um ótimo programa!

Abraços

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Postagem 3


E se pensarmos o cinema atuando não de forma direta, com filmes com objetivos políticos evidentes, como vimos nas postagens anteriores, mas como uma forma de difundir modos de pensar, usos, costumes, moda, comportamento sexual, padrões de beleza específicos aliados à propaganda e ao consumo?

Aí entramos em uma discussão fascinante que tem a ver com os conceitos de star-system (sistema do estrelato) e studio-system (sistema de estúdios) conforme foram desenvolvidos por Edgar Morin no livro As Estrelas de Cinema. No sistema de estrelato e no sistema de estúdio, desenvolvido pelos estúdios de Hollywood a partir da década de 1930, as estrelas de cinema (homens ou mulheres) são produzidos para atender aos desejos mais profundos e, segundo Morin, mais recalcados dos espectadores. Criando tipos que se repetem filme após filme (boa esposa, mulher má e sedutora, homem protetor e heróico, vilão, amiga da mocinha, amigo do mocinho etc etc), este sistema nos lembra o tempo todo que a estrela de cinema é ao mesmo tempo imaterial e real, pois produz comportamentos e expectativas – e consumo – nas massas que têm no cinema o seu mais importante lazer, especialmente nas décadas de 1940 e 1950.

Escrevi bastante sobre isso no meu livro Poeira de Estrelas, que saiu pela Editora da Unicamp – pra quem tiver curiosidade de ver.

Nesta postagem, queria abordar a idéia de um cinema de sonho e fantasia, de exagero e romantismo exacerbado: o cinema explorado pelo gênero dos musicais.

Se a questão é falar de exagero...basta olhar as cenas dos filmes de Esther Williams, que fazia suas performances...nadando! Hoje as cenas e os cenários nos parecem risíveis, mas elas são a marca do exagero quase carnavalesco que habitou o imaginário naquele momento. O conjunto de cenas foi tirado de um documentário chamado That´s Entertainment, que na década de 1970 celebrou o cinema hollywoodiano clássico. Aguentem até o fim!

http://www.youtube.com/watch?v=9jUjhrDhFuM

Mas vamos falar de boa música e de boa dança?

Deixo aqui para vocês algumas cenas que considero fantásticas, espero que vocês assistam a todas:

Começo por um classicão, o cantor e dançarino Fred Astaire – que tinha um estilo todo sofisticado e gentleman de se vestir, cantar e dançar. Sua parceira mais famosa foi a loira Ginger Rogers...aqui eles dançam Night and Day, belíssima canção de Cole Porter, do filme A Alegre Divorciada (The Gay Divorcee, de 1934).

Estamos na Grande Depressão...e ainda falando em divórcio? Vejam que bonito.

http://www.youtube.com/watch?v=YV5e7mWcQJE

Já nesta cena Fred Astaire dança Puttin´ on the Ritz (canção linda de 1929 que ele dança aqui no filme Blue Skies de 1946 – esqueci como traduziram este filme pro português, alguém sabe?)

http://www.youtube.com/watch?v=ibVLswVdStw&feature=related

Ainda dele, a famosa cena de uma dança pelo teto em Núpcias Reais (Royal Wedding, 1951). Eu era criança a primeira vez que assisti, pois passava na TV de tarde, e fiquei extasiada e, adivinhem...estamos em 2011 e ainda dá para a gente ficar imaginando como a cena foi feita...

http://www.youtube.com/watch?v=Y8n7WQIXQDs

E com a dançarina das pernas mais longas do cinema, Cyd Charisse, em The Band Wagon (1953), em uma dança mais “sexy” e em uma mais romântica.

Reparem que a forma como o corpo dos casais se entrelaçavam era uma espécie de balé erótico, que fascinava as platéias que dava asas a imaginar aquilo que a censura não permitia representar (afinal, estava em vigor o Código Hays de censura).

http://www.youtube.com/watch?v=yuJxYmJlEHY

e

http://www.youtube.com/watch?v=duLFwcsc6Nc&feature=related

Reparem também que este pessoal que faz curso de dança de salão e atormenta as festas de casamento alheias não sabe nada da vida...

Continuando: quero também falar do meu ator-dançarino preferido, Gene Kelly.

Esta cena vocês já devem ter assistido alguma vez, mas picadinha, espremida em algum especial sobre cinema. Vale a pena assisti-la toda. É de Cantando na Chuva (Singin´in the Rain, de 1952), um filme fantástico sobre a história da passagem do cinema mudo para o cinema falado (é, Hollywood é muito auto-referenciada e adora falar de si mesma)

http://www.youtube.com/watch?v=rmCpOKtN8ME

Gene Kelly em Dançando nas Nuvens, de 1955 (It´s Always Fair Weather)....Notem, em contraponto ao estilo de Astaire, que Gene Kelly dança de um jeito mais divertido e mais viril, uma dança menos sofisticada e mais baseada em equilíbrio e força física.

http://www.youtube.com/watch?v=Aus1PA5-SyI&feature=fvsr

E num dueto com o excelente e subestimado Donald O´Connor na canção "Moses Supposes", também de Cantando na Chuva, quando têm que aprender a falar com dicção, já que o cinema tornara-se sonoro.

http://www.youtube.com/watch?v=tciT9bmCMq8

Aliás, vejam um número solo de Donald O´Connor no mesmo filme (nesta eu quero que vocês reparem que o pessoal que faz dança de rua também sabe nada da vida....)

http://www.youtube.com/watch?v=FW02c5UNGl0

Quero me despedir de vocês com essa. Reparem a suavidade com que Fred e Ginger dançam a Smoke Gets in your Eyes, que dá nome a nosso blog. É do filme Roberta, de 1935.

http://www.youtube.com/watch?v=OMOBdQykKQY

Em tempo! Fellini fez um belíssimo filme referindo-se ao casal Fred Astaire e Ginger Rogers, interpretados respectivamente pelos grandes atores Marcelo Mastroiani e Giuletta Masina.O filme chama-se Ginger e Fred (1986) e mostra a decadência daquele cinema ( e romantismo) sendo predados pela TV. Vale muitíssimo a pena, mas para sentir, tem que assistir uns belos musicais hollywoodianos antes - ou pelo menos os trechos que trouxe aqui pra vocês...

Até.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Postagem 2

Continuando...

E em que tipo de cinema pensava Walter Benjamin, como contraponto ao cinema da estética nazista ou o cinema de entretenimento de massas de um Chaplin ou de um camundongo Mickey, quando finaliza seu texto apontando para um cinema com capacidade de transformação social e política? Seguramente, referia-se ao cinema soviético como o de Serguei Eisenstein (1898-1948), que realizou filmes de grande impacto estético tais como A Greve (1924), O Encouraçado Potemkin (1925) ou Outubro (1928).

Falamos assim de um cinema que ficou conhecido na clássica história do cinema como cinema construtivista, no qual imperava a técnica da montagem, feita a partir de diferentes planos, focos e sentidos. Há muitos expoentes deste cinema, que se alinhava à revolução estética russa das primeiras décadas do século XX, sendo os mais conhecidos Dziga Vertov (1896-1954) e o próprio Eisenstein. Vertov fundou o movimento cine-olho e a revista Kino-Pravda (cinema-verdade) mostrando que a imagem era fabricada, criada pela interferência do diretor, dos técnicos, da iluminação etc. A imagem não era, assim, a documentação de uma realidade única. Eisenstein defendia o mesmo ponto de vista.

Permitam-me um parágrafo sobre o conceito de montagem tal qual Eisenstein o concebeu: para ele, os planos funcionavam como unidades autônomas, como “células” que, uma vez animadas por um princípio, passam a ter efeitos sobre o espectador, como se fossem choques. Eisenstein havia trabalhado com teatro e tinha um fascínio especial pelo teatro oriental kabuki, assim como pela poesia haiku (os haikais, poesias de três linhas). Em um de seus textos sobre cinema, Eisenstein dá o exemplo do seguinte haikai:

Um corvo solitário

sobre um galho desfolhado

numa noite outonal

e sobre isso comenta que cada frase do poema pode ser considerada em si uma “atração” (como se fosse uma atração de circo), e que a combinação das frases equivale à montagem. Cada verso colide com o próximo, e o efeito unificado quem realiza é a mente. Por isso, por exemplo, no filme A Greve, Eisenstein justapõe imagens como o rosto de um homem, uma raposa, uma multidão, um touro sendo morto. Parece não fazer sentido, mas cada imagem produz um forte estímulo e a mente cria as ligações.

[para quem quiser saber mais sobre o assunto, recomendo ler o próprio Einsenstein A forma do filme, Jorge Zahar, 2002; ou algum estudo sobre ele, como Eisenstein e O Construtivismo Russo de François Albera (Cosac & Naify, 2002]

Voltando ao nosso assunto: deixo aqui uma cena célebre (talvez a mais célebre) do filme Encouraçado Potemkin. Sugiro que vocês assistam e só depois leiam a continuação do post.

http://www.youtube.com/watch?v=LDKKN-KILIY

Vamos lá: O Encouraçado Potemkin foi realizado para comemorar os 20 anos do levante de 1905, precursor da revolução de 1917. O filme, dividido em cinco partes, narra o motim ou revolta da tripulação do navio Potemkin no porto de Odessa. A população apóia a revolta e é massacrada pelas tropas czaristas (a parte que vocês assistiram). O processo é visto como a semente da revolução bolchevique; não há heróis individuais, mas tipos com rostos marcantes, que não eram artistas profissionais.

Observem que no trecho assistido (conhecido como a escadaria de Odessa), a mesma ação é repetida várias vezes, o que aumenta a sua intensidade. A sombra opressora das pernas e botas dos soldados czaristas se estendem pelos degraus; as faces aterrorizadas da mãe do bebê e da velha que tem o olho atingido pela bala são imagens de horror, que ficam associadas ao regime czarista. Assistam mais uma vez a seqüência para observá-la agora após estes comentários.