terça-feira, 11 de outubro de 2011

Benjamin Abrahão Botto



Esta foto de Botto nos permite observar parte da cultura material do cangaço. Nela podemos ver as saias curtas das mulheres, o famoso chapéu de cangaceiro, os sapatos, as armas do cangaço, entre outros objetos próprios da cultura daquele grupo.  É também possível observar a geografia do local. Não posso dissertar muito mais do que isso sobre o studium desta foto pois meu conhecimento referente a esse momento histórico é muito superficial.
Posso, no entanto, falar sobre seu punctum, sobre aquilo que atraiu minha atenção. Observando a imagem, meu olhar é arrastado para a cabeça de Lampião. Ele ocupa lugar no cento da foto (mais uma característica do studium: a centralidade do chefe do bando e da figura masculina) e, portanto, seria de se esperar que atraisse a atenção do observador. Mas não é seu corpo que me punge, é seu rosto, sua cabeça.  Ela se põe logo acima da linha do horizonte, e acima dela está apenas o céu. Há, é verdade, as árvores, mas estas ocupam um lugar periférico na foto, estando no fundo ou nos cantos, como que margeando a cabeça do cangaceiro. Nesta foto, a cabeça de Lampião, com seu chapéu de meia lua, parece ser o sol – símbolo tão associado ao sertão –  nascendo por detrás da serra.
Na foto estão registrados Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria bonita, sua companheira, além de uma terceira personagem não identificada.  São de autoria de Benjamin Abrahão Botto as únicas imagens, em vídeo e fotografia, do cangaceiro e seu grupo. O líder do grupo autorizou que o fotógrafo realizasse o registro do grupo, dando-lhe inclusive autorização por escrito para isso e acrescentando que não permitiria isso a nenhuma outra pessoa.  As imagens eram feitas no acampamento onde o grupo se encontrava, conviveu com o grupo por pelo menos seis meses no ano de 1936.
Depois do golpe de 1937, que culminaria no Estado Novo, o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) do governo confisca e analisa o material registrado por Botto, considerando-o inadequado, por possuir registro do bando de Lampião e em 10 de maio de 1938 Benjamin é assassinado por 42 facadas, sem que o crime fosse devidamente esclarecido.


Gabriel C. de S. Santos e Lígia M. G. Rolfsen

Um comentário:

Guido Santos disse...

Tem um filme muito legal que fala sobre essa série de fotos de Benjamin Abrahão: Baile Perfumado.
O mais interessante é que há uma mistura muito bem feita das cenas do filme com as filmagens originais que Benjamin fez dos cangaceiros.
Vejam o trailer: http://www.youtube.com/watch?v=S8TNbZNhfSQ