
Local: Estação Church Gate - Bombaim, India.
Sebastião Salgado (1944 - ???), fotógrafo brasileiro de renome internacional, é conhecido principalmente pelas suas fotografias de crítica social, apresentando, por exemplo, as lutas por terra no Brasil ou a realidade de populações miseráveis em vários países africanos. Produziu diversas imagens impactantes, a tal ponto que foi muito difícil escolher apenas uma delas para ser analisada. A fotografia acima, entretanto, chamou a nossa atenção de forma especial.
Decerto há particularidades sócio-históricas que o fotógrafo (Operator) pretendia captar e que permitem ao observador (Spectator) estabelecer uma relação entre a fotografia e o contexto em que foi produzida. Embora seja essencial dispor de profundo conhecimento sobre o contexto histórico retratado para fazer uma análise historiográfica ou sociológica, não é preciso tanto para se sentir atraído por essa imagem; a multidão registrada parece tragar o observador para a fotografia.
Decerto há particularidades sócio-históricas que o fotógrafo (Operator) pretendia captar e que permitem ao observador (Spectator) estabelecer uma relação entre a fotografia e o contexto em que foi produzida. Embora seja essencial dispor de profundo conhecimento sobre o contexto histórico retratado para fazer uma análise historiográfica ou sociológica, não é preciso tanto para se sentir atraído por essa imagem; a multidão registrada parece tragar o observador para a fotografia.
O mais surpreendente da imagem é que ele aparentemente contradiz uma tendência geral das fotografias: aquilo que Roland Barthes chama de “imobilização do Tempo”. Esta fotografia tem o mérito de representar o próprio movimento e a passagem do tempo, como se percebe por meio das silhuetas distorcidas da multidão que se desloca freneticamente. Apresenta assim o que paradoxalmente denominamos de “imobilização do movimento”: o intenso movimento de uma estação de trem, durante uma parcela ínfima de tempo, é congelado pelas lentes fotográficas, tornando-se o próprio Referente da imagem.
O mais curioso é que, num cenário onde apenas as placas da estação não têm movimento aparente, há uma mulher no canto inferior esquerdo que se locomove em ritmo diferente ao dos demais transeuntes; nota-se que sua figura é bem mais nítida que a dos outros indivíduos. Esse detalhe que punge – esse punctum, citando Barthes novamente – suscitou-nos uma, digamos, “meta-análise”. A imagem poderia ter sido feito numa estação de metrô em São Paulo ou em outra metrópole brasileira qualquer; será então que nós, nessa movimentada vida contemporânea, observamos com atenção o mundo ao redor? Ou vivemos todos apressados como a multidão de migrantes indianos, a nada prestando atenção? E ao observarmos as fotografias desse blog? Olhamo-nas com o olhar analítico de um historiador e a calma da senhora da foto ou com a pressa do internauta que tem mais uma dezena de blogs para ler?
Guido Santos e Natália Barbarini
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